Luxo e tradição são assuntos centrais no universo da realeza, e com a família real britânica não é diferente. Royals como a princesa Diana, Kate Middleton e Meghan Markle usaram a moda e joias preciosas para se tornarem ícones de estilo, assim como a rainha Elizabeth II, famosa por brilhar com as joias da Coroa da Inglaterra, avaliadas em mais de 20 bilhões de reais. Com a morte da soberana, rei Charles III e sua rainha-consorte, Camilla (além de William, o novo príncipe de Gales), usarão a coleção de preciosidades.
Com quase 400 anos de história, as “crown jewels” são símbolos de poder e objetos de fascínio para o público, que se reúne anualmente aos milhões para conferi-las de perto na Torre de Londres, a fortaleza-museu onde são expostas quando não estão sendo usadas.
A coroação do rei Charles III está prevista para acontecer na primavera de 2023 e, segundo observadores, com uma promessa ambiciosa: será a primeira cerimônia desde 1911 (na coroação de George V) que contará com o aparato completo das joias da Coroa. Para animar os preparativos e afiar o olhar, contamos tudo que você precisa saber sobre as peças.
1. Qual a história das joias da Coroa?
Considerada uma tradição bíblica, o uso de objetos preciosos na coroação de monarcas se oficializou na Inglaterra há quase mil anos, ainda no século 12. Na época, o rei Edward, o Confessor, deixou sua coroa e joias sob os cuidados dos monges da Abadia de Westminster, em Londres, para serem usadas na coroação de futuros reis e rainhas. Com sua morte e santificação em 1161, esses objetos se tornaram relíquias sagradas.
Em 1649, durante a guerra civil que executou o rei Charles I e declarou uma breve república no Reino Unido, as joias da Coroa foram levadas para a histórica fortaleza conhecida como Torre de Londres e destruídas. Enquanto as pedras preciosas foram vendidas, o ouro e a prata foram derretidos para se tornarem moedas.
Com a restauração da monarquia em 1660, o rei Charles II foi coroado no ano seguinte com um novo conjunto de joias feito especialmente para ocasião. Essa nova coleção se transformou na base para as “joias da Coroa” que conhecemos hoje, mas muitos tesouros foram adicionados ao longo dos séculos por reis e rainhas seguintes.
2. A família real é dona das joias da Coroa?
Ao contrário da crença popular, as joias da Coroa não pertencem à família real e nem ao rei ou rainha da Inglaterra. Os mais de 100 objetos preciosos da coleção são propriedade da nação e Coroa britânica enquanto instituição, fazendo parte da Royal Collection e sendo usufruídos pelo monarca vigente e sua família imediata.
Ainda assim, vale lembrar, a família real é dona de uma vasta coleção pessoal de joias, que inclui conjuntos luxuosos comprados (ou ganhados) ao longo de séculos. Entre eles, a parure de águas-marinhas que a rainha Elizabeth II ganhou de presente do Brasil em comemoração à sua coroação em 1953.
3. Quando as joias da Coroa são usadas?
Com exceção da Coroa Imperial de Estado, que também é utilizada na abertura oficial do Parlamento inglês (ocasião em que o monarca discursa), todas as joias da Coroa são utilizadas somente na cerimônia de coroação de um rei ou rainha.
4. Quem criou as joias da Coroa?
Depois de substituir a Bridge & Rundell em 1843, a joalheria inglesa Garrard & Co., fundada em 1735, ficou responsável por criar e cuidar da joias da Coroa até 2007. A casa é o nome por trás das principais peças na coleção, incluindo a Coroa Imperial de Estado (1937), os braceletes da rainha Elizabeth II (1953), a Coroa de diamantes da rainha Vitória (1861) e a Coroa de George, príncipe de Gales (1901).
Além das joias da Coroa, a Garrard & Co. também criou muitas peças para a coleção pessoal da família real, incluindo o anel de noivado da princesa Diana, que hoje pertence a Kate Middleton, a nova princesa de Gales.
O atual joalheiro oficial da Coroa britânica é Martin Swift, mestre artesão na celebrada joalheria britânica Mappin & Webb, fundada em 1775.
5. Quais joias estarão na coroação do rei Charles III?
Entre os mais de 100 objetos e 23 mil pedras preciosas que compõem a coleção das joias da Coroa, os mais famosos são conhecidos como ‘coronation regalia’ e estão associadas às coroações de reis e rainhas da Inglaterra desde 1661.
Seguindo a tradição, a coroação de um rei é acompanhada da coroação de sua esposa, a rainha-consorte, ao contrário do que aconteceu com a Elizabeth II, em 1953, quando seu marido, o príncipe Philip, não foi coroado. Isso significa que, pela primeira vez desde 1937, quando o rei George VI e a rainha-consorte Elizabeth (pais de Elizabeth II) foram coroados, o público poderá ver, com Charles III e Camilla, o aparato completo das joias da Coroa sendo utilizado.
Entre as peças que muito possivelmente farão parte da nova coroação, listamos as principais para ficar de olho:
Coroa de São Eduardo
Criada em 1661 pelo então joalheiro do rei, Robert Vyner, essa coroa é usada apenas durante a cerimônia de coroação e é colocada sobre a cabeça do monarca pelo arcebispo de Canterbury. O momento é considerado o clímax do evento e é acompanhado por sinos e 62 tiros de canhão.
Por ser considerada de pouco uso, essa coroa feita de ouro puro era constantemente desmontada e remontada para cada coroação. As joias preciosas que a decoravam eram, na verdade, emprestadas por outros membros da aristocracia e devolvidas ao fim de cada cerimônia.
Charles II foi primeiro rei a usar a peça e, a partir de 1702, devido ao peso, ela passou a ser exibida apenas em uma almofada. Foi o rei George V, em 1911, quem reviveu de fato a tradição de usá-la na cabeça, ajustando seu design e colocando pedras preciosas e semipreciosas permanentemente no item, incluindo rubis, ametistas, safiras, topázios e turmalinas. Atualmente, a Coroa de São Eduardo pesa 2,23 quilos.
Coroa Imperial de Estado
A mais famosa das joias reais, essa coroa é usada pelo soberano no final da coroação e na cerimônia de abertura Parlamento, em que o rei ou a rainha também discursa oficialmente. A tradição de usar uma segunda coroa existe desde antes da Guerra Civil (1642 – 1651), mas a atual Coroa Imperial de Estado, datada de 1937, é apenas uma das várias versões que já existiram do objeto. Outras incluem a coroa de George I, criada em 1715, e a da rainha Vitória, de 1838.
Se Charles não encomendar uma nova coroa, o público continuará a ver a joia que a rainha Elizabeth II costumava usar. A peça conta com 2.868 diamantes, 17 safiras, 11 esmeraldas e 269 pérolas, incluindo algumas das joias mais famosas da coleção real:
O Rubi do Príncipe Negro: uma das pedras mais visíveis na Coroa Imperial de Estado, esse “rubi”, na verdade, é um enorme espinélio que teria pertencido aos muçulmanos na Espanha, antes de entrar para a coleção de Dom Pedro, o Cruel, rei de Castilha. Em 1367, depois da Batalha de Nájera, Pedro presentou o então príncipe de Gales, Edward (conhecido como o príncipe negro, por sua armadura escura), com a pedra, que foi colocada na Coroa Imperial em 1685, por James II.
O Diamante Cullinan II: descoberto na colônia de Transvaal, atual parte da África do Sul em 1905, o diamante Cullinan é o maior diamante já encontrado e pesava, originalmente, 3,106 mil quilates. Apesar de ser uma sensação, não encontrou compradores e, em 1907, foi adquirido pelo governo de Transvaal e presenteado ao rei Edward VII. Foi a firma Asscher que cortou o diamante em pedras menores, dando origem a 9 diamantes batizados de Cullinan (numerados de I a IX). Enquanto o Cullinan I foi colocado no Cetro do Soberano com Crucifixo, o Cullinan II (também conhecido como Segunda Estrela da África) foi instalado na Coroa Imperial de Estado em 1909, substituindo a Safira Stuart.
A Safira de São Eduardo: segunda a lenda, o rei Edward, o Confessor, teria dado um anel de safira para um mendigo que, na verdade, era São João Evangelista disfarçado. Durante uma peregrinação na Síria, o santo devolveu o anel para dois viajantes ingleses, pedindo para devolvessem a joia para o rei e dizendo que, seis meses depois, o monarca iria para o paraíso. Edward morreu em 1066.
A Safira Stuart: colocada na parte traseira da coroa, essa safira teria sido contrabandeada para fora da Inglaterra pelo rei James II, fugindo da Revolução Gloriada (1688-1689) e se abrigando na França. A pedra foi herdada por seu filho e neto, James e Henry Stuart, até parar na coleção do rei George IV, que a colocou na frente na coroa imperial. Foi apenas em 1909 que a mudança para a parte de trás aconteceu, quando o diamante Culinan II substituiu a safira.
Quando o sucessor de George IV, William IV, assumiu o trono em 1831, sua esposa, a rainha Adelaide, se apaixonou pela peça e, desde então, o diadema tem sido passado entre as figuras femininas da família real. As rainhas Vitória, Alexandra e Mary ficaram famosas por usar a joia, assim como Elizabeth II, que a usava em todas as aberturas oficiais do Parlamento.
Historicamente, o Diadema de George IV também foi usado nas procissões até a Abadia de Westminster, nos dias de coroação. Foi o caso com Elizabeth II e, por isso, observadores podem esperar ver a nova rainha Camilla com a peça.