Nas últimas semanas, aumentou de maneira impressionante a criação de perfis nas redes sociais dedicados exclusivamente a bebês de celebridades. Esses fã-clubes, muitas vezes administrados por pessoas que nem conhecem a família real, viram um fenômeno digital com milhões de seguidores. Eles se aproveitam do grande volume de fotos e vídeos que já circulam publicamente para alimentar páginas inteiras repletas de comentários como “fofo” ou “engraçado”, gerando engajamento e, em alguns casos, viralizando.
Esse movimento ganha força especialmente com crianças de influencers como Virginia Fonseca, cantora Zé Felipe, Neymar, Viih Tube e Eliezer, segundo levantamento recente. Há perfis enormes focados apenas nos filhos dessas figuras públicas, muitos deles ultrapassando a marca de milhões de seguidores. A curiosidade sobre a rotina dessas crianças atrai um público diversificado, sedento por acompanhar os primeiros passos, risadas e descobertas de uma infância sob os holofotes.
Do ponto de vista psicológico, essa tendência pode revelar algo profundo sobre a sociedade contemporânea. A psicanalista Elidiana Palasciano aponta que muita gente acaba projetando na criança suas próprias carências e ideais. Seguir a vida de um bebê famoso cria uma espécie de vínculo emocional, às vezes até ilusão de pertencimento, como se fôssemos parte daquela família glamourosa, mesmo sem nunca ter conhecido os pais ou a criança pessoalmente.
Além disso, essa ligação intensa pode se tornar problemática. O psicólogo Igor Lemos alerta para os riscos de uma idealização exagerada: quando a adoração vira obsessão, ultrapassa a simples curiosidade e se aproxima de um comportamento de pertença emocional doentia. A bola de neve se forma quando admiradores começam a atribuir seus próprios valores, expectativas e até desejos às pequenas celebridades.
Para os bebês em si, a superexposição tem consequências potenciais importantes. Especialistas como Evelyn Eisenstein, da Sociedade Brasileira de Pediatria, destacam que crescer sob um público — mesmo que virtual — pode alterar a percepção de si mesmo. A criança, durante seu desenvolvimento emocional, pode ter dificuldades para separar sua identidade real da imagem projetada, moldada por um público externo com expectativas idealizadas.
Também não se pode ignorar a questão da responsabilidade dos pais. Muitos celebridades alimentam essas páginas com regularidade, compartilhando momentos íntimos e construindo uma narrativa familiar cuidadosamente filtrada. Esse tipo de estratégia, se mal administrado, pode transformar a própria infância da criança em produto digital, sob risco de vulnerabilidade futura.
E há ainda um alerta tecnológico: em tempos de inteligência artificial avançada, as imagens dessas crianças podem ser manipuladas por pessoas com más intenções. O uso de deepfakes ou edições maliciosas é uma ameaça real quando se trata de perfis extremamente populares, especialmente quando os administradores não têm relação direta com a família original.
Por fim, é importante buscar equilíbrio. A diversão de acompanhar a fofura de um bebê famoso deve conviver com a consciência de que estamos lidando com uma pessoa em formação. Pais, seguidores e administradores de páginas devem refletir sobre os limites da exposição, a ética de compartilhar cada pequenino momento e a responsabilidade de proteger uma criança que ainda nem compreende a própria existência online. Esse fenômeno, embora sedutor, pede cautela — e sensibilidade para não transformar admiração em invasão.
Autor: Romanov Brown